(do fim não-fim)
(do fim não-fim)
Dos vícios de Diego à necessidade de mim
Hoje já não dói Diego, ver-te por aí sorrindo, em companhias femininas, ignorando minha presença como se nada houvesse ou tivesse havido entre nós. As coisas com você estão mudando, não mudaram nos oito anos dividindo o mesmo teto; nem nestes outros que se sucederam onde divido minha cama com você, mas hoje querido, ah, hoje, já não dói!
Estamos envelhecendo Diego,o nosso tempo já passou, e não há nada pior que insistir em algo que está errado, aliás, sempre há algo pior; como bem sabemos. Vamos nos manter calmos para não pegarmos mais um daqueles porres e vomitar sentimentos nas calçadas, nos ligar de madrugada, perturbar amigos e donos de bar, bar não Diego, boteco mesmo! Nem há mais tanto prazer assim em relembrar o que vivemos, o passado já passou, e temos tantas coisas gostosas para lembrar desassociadas de nós dois, meu bem.
Eu entendi Diego, claro que entendi. E sei que só agora nos conhecemos bem, sem capas para satisfazer o outro, com todos os vícios e necessidades peculiares e intimas de cada um, mas meu amor, não dá mais. Sim Diego, estava maravilhoso; atrativo também, nos encontrarmos na surdina da madrugada, copular loucamente nos albergues da estrada, num motel barato, ou no banco de trás do carro. Como conhecemos nossos corpos não é mesmo?! Uma dança onde sabemos de cor todos os passos, mas eu preciso de mais Diego, preciso daquelas coisas que você não me deu, e nem quero que me dê agora.
Por um tempo achei que não conseguiria mais viver sem você, “meu” Diego, mas nossos encontros ilegais me mostraram o contrario, ainda há calor, desejo, tesão e todos os sentimentos chulos, mas é só. Não me dói Diego ver-te com outra mulher, pois é o meu colo que te satisfaz... mas e daí? E aí? Não há amor Diego, é pele, é vício!
Preciso dormir junto, viver junto, dividir problemas além da cama, dividir a vida além do lençol, de prazer que não seja do gozo. E meu bom Diego, nunca conseguimos fazer isso, não será agora que faremos. Um café na cama, o cheiro de mato, de terra molhada, e onde por essas bandas ainda há terras para pisar descalços? Sentir a umidade em forma de lama cobrir os dedos dos pés, move-los desordenadamente curtindo a sensação como criança ao tomar um banho de chuva pela primeira vez, ah Diego, nunca tomamos um banho de chuva!
Preciso das coisas simples, você das metódicas, o casal que encenávamos nunca existiu, e isso não quer dizer que o sentimento era irreal Diego, sentimos e muito, a nos deixar perpetuar depois do fim não-fim, mas eu preciso discutir aquele livro, passear com os cachorros, assistir aquela serie junto; preciso daquele filho que não te dei... e o tempo passa Diego, aliás já passou, e o filho que não te dei - e que não dei a nenhum outro parceiro que eventualmente passou em minha vida enquanto nos enrolávamos em um moquifo qualquer da cidade -, tem ânsia de existir, e não foi com você Diego e nem será.
Acontece que eu sempre digo que não dá mais não é mesmo Diego? O encorajo a novos romances, novas aventuras; mas sei bem pelo que ficas. Faço-o com empenho pra te fazer voltar, enquanto corto suas asas fico nutrindo internamente uma esperança contida, não de que as coisas vão voltar por conta de nossa história absurda, mas de que elas vão ser reais um dia, boas um dia, talvez um dia; enquanto os dias passam e nos afogamos em álcool, nos misturamos em outros corpos, construímos nossas histórias singulares, e por mais que eu sempre te diga não, acabo te permitindo ficar, conheço as tuas necessidades Diego, sei as coisas que você não diz, sei ler teu olhar, e por isto você volta; mas só permanece porque eu sou louca Diego, eu sou louca!
Olha amor, dediquei a você minha vida inteirinha
no meu sonho de amor fiz você a rainha
E você vem falando em separação
Olha amor
Antes que seja tarde o arrependimento
Eu não quero ouvir mil desculpas, lamento
Pois tudo que fiz foi pra te ver feliz
Minha rainha – Noite ilustrada